Invisibilidades

domingo, novembro 13, 2005 à(s) 01:00
Eu sei...já não é novidade! - Pensei...
E foi assim que estive durante todo aquele tempo eterno que não terminava, nem terminou sequer. Permaneci muda, calada, esquecida, minúscula, insignificante, fiel a mim mesma, como se de um ornamento invisível eu me tratasse. Fiz tudo o que devia ser feito, mais do que o que podia, menos do que se esperava...como sempre! Mas não abri a boca, limitava-me a dialogar comigo mesma num tom de voz silencioso que eu própria tinha dificuldade em balbuciar.
Quando dei por mim a pensar que certamente seria transparente, visto que a conversa continuava e eu era apenas um detalhe da decoração ou o vidro da janela que evoca a paisagem exterior. Era para aí que eu queria migrar, para o exterior, para o vazio, para o infinito, para o vácuo...
Lá, na clareira onde tenho vivido, só consigo ouvir o meu coração bater. Um som oco que se propaga pelas lágrimas agoniadas que se esvaem pelo meu rosto. Mas como sou transparente ninguém se apercebe...nem mesmo as árvores centenárias que ainda vão crescendo, ou os mochos que ocasionalmente animam as noites.
As trevas que me cercam é que me vão facilitando o caminho, por incrível que possa parecer, não são tão más como se pensa por aí. Tenho vivido acompanhada por uma imensa solidão que me faz feliz mesmo quando estou triste, porque ela nunca me abandona; ela é-me sempre fiel. Mesmo quando quero estar sozinha sei que ela está algures por ali e nunca me irrita. Respeita-me e percebe-me como ninguém, apesar de não me dirigir uma única palavra... tenho vindo a certificar-me que ela é muda!
- Ouviste o que eu te disse? Nem parece teu, devias ter vergonha de não fazeres o que te mando (...) teimosa e (...) com essa idade... Já olhaste bem p'ra ti? ... Não fazes nada que preste...
Não...
Não foi a solidão que falou; tenho a certeza, esta voz não poderia ser dela. Por vezes tenho estas perturbações: dá-me a sensação que alguém fala para mim. Mas como o tom de voz é sempre imperativo acabo por ignorá-lo, ainda não devo ter recuperado totalmente. Provavelmente são sequelas ou pequenos rasgos fantasmagóricos de uma vivência passada que por vezes me assombra o presente mas que opto por esquecer.
Vou voltar para o âmago despovoado onde sempre vivi...à luz da lua espelhada no rio, com sombras sinistras, sonoridades bizarras, onde ninguém fala, apenas sussura silenciosamente palavras débeis e insonoras, surdas e inócuas: unicamente eu.
É aí que vivo até hoje: somente eu e a minha solidão...invisíveis!

2 comentários

  1. Anónimo Says:

    Profundo, intenso este teu post :)Beijinhos

  2. Morfeu Says:

    Vozes de consciência, de solidão…não somos um pouco assim, todos nós, Aqui…Falando uns para os outros, como de Nós se tratasse…sombras, luzes…enfim, invisíveis a tudo, protegidos do nada.
    Um beijo

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